sexta-feira, abril 27, 2007

MARIA, NÃO VÁS COM AS OUTRAS!

HOJE- 22h00:
Apresentação do livro "Pornografia Erudita"(Cosmorama, 2007),
de valter hugo mãe. Com a presença do poeta.

Domingo, 29 de Abril - 16h00:
GRUPO DE LEITURA DA MARIA
"Niketche, uma história de poligamia"(Caminho, 2002),
de Paulina Chiziane.
1º encontro para nos conhecermos, combinar leituras e formas de as partilhar.


Maria Vai Com As Outras
R. do Almada, 443, Porto
tel. 220167379

terça-feira, abril 24, 2007

Quase quase vestido
Disponível aqui

segunda-feira, abril 23, 2007


MADRUGADA

Na madrugada do 25 de Abril de 1974, quando o MFA prepara o derrube do Governo, o director da PIDE transmite aos seus funcionários uma interessante nota de serviço. Segundo esta, os agentes da polícia política deverão continuar "a trabalhar como habitualmente", abstendo-se de qualquer acção hostil às Forças Armadas. Podemos hoje entender que a PIDE, cuja colaboração era íntima com a CIA ou com os serviços secretos franceses, estava a par dos projectos do MFA. É provável que o golpe militar tenha sido organizado com a concordância, ou a tolerância, pelo menos, dos serviços secretos ocidentais, em particular com os norte-americanos.
(...)
O regime português afundava-se desde havia treze anos numa longa guerra nas colónias africanas, parecendo incapaz de se reformar para corresponder às exigências duma economia moderna. As despesas militares representavam encargos esmagadores para o conjunto da economia, penalizando a necessária modernização do Estado, e a ameaçade quatro longos anos de serviço militar levava muitos jovens trabalhadores a emigrar, fugindo da pobreza e da farda. Por outro lado, apesar da forte repressão policial as lutas operárias não haviam diminuido desde meados dos anos 60 e os sectores capitalistas modernos aspiravam abertamente a uma transição democrática, a um regime parlamentar legitimado pelo voto. Aos olhos desta fracção das classes dominantes, o jogo sindical deveria poder canalizar para a negociação os movimentos reivindicativos, evitando a sua constante politização. Era uma evolução tanto mais necessária quanto o peso do capital multinacional se tornara predominante na economia portuguesa. A guerra já não podia ser ganha militarmente; para a população, a guerra era um factor de imobilismo. Impunha-se virar a página.
Mas, uma vez desencadeado o golpe, a sequência dos acontecimentos não se desenrolou como previsto. A população de Lisboa e do Porto vem para a rua em massa, desafiando as ordens militares que dizem às pessoas para ficarem em casa a ouvir a rádio e a assistir aos acontecimentos como telespectadores. (...) A amplitude desta participação popular, a energia e a dinâmica dela decorrentes, não tinham sido prevista pelos conspiradores agaloados, para quem a resignação criada por quase cinquenta anos de regime autoritário constituía um seguro de vida.
(...)
Depois disso, vai ser necessário um golpe militar às avessas, para permitir que as forças políticas burguesas fiquem de novo senhoras da situação e levem a cabo a reforma do Estado, em conformidade com os interesses do capitalismo privado.
(...)
As utopias, os desejos, a generosidade e o imaginário colectivo desse tempo não podem evidentemente ser reduzidos a uma miserável opção entre o pior e o menos mau de dois males. Naquele momento, a história estava cheia duma variedade de possíveis, de probabilidades e projectos. (...) Vivia-se aquilo que a pintora Vieira da Silva soube exprimir quando disse: "a poesia está na rua".

Crónicas Portuguesas, Charles Reeve (Trad. de Júlio Henriques), Fenda, 2001, pp.9-11

sexta-feira, abril 20, 2007

A. PEDRO RIBEIRO

AMANHÃ , 21 DE ABRIL, A PARTIR DAS 16H,
na Galeria Sargadelos

Apresentaçao de "SALOON" (edições mortas),
com a actuaçao da banda, punk-rock, MANA CALÓRICA

(nada mais justo, António!)

terça-feira, abril 17, 2007

O ESTADO NOVO CONTRA A SEDUÇÃO


A Galeria Sargadelos (Porto), assinala o 33º aniversário do 25 de Abril, com a exposição “O Pecado não Mora ao Lado: o Estado Novo contra a Sedução”. A mostra, concebida pela Biblioteca-Museu da República e Resistência (Lisboa), evoca os costumes, a moda, os hábitos, a moral e o erotismo, na sociedade portuguesa, durante a ditadura.

Até 10 de Maio, na rua Mouzinho da Silveira, 294, Porto.

Da informação que nos enviou o Museu: “Deus nos defenda de que as nossas filhas enveredem por este último caminho de histeria colectiva. O rock and roll (…) deve ficar para além das fronteiras onde a dignidade, a pureza dos costumes a integridade da mulher são um exemplo para o mundo.” (In Crónica Feminina)

SALOON NAS SALAS DA SARGADELOS
21 de Abril, 16 horas


No próximo sábado, 21 de Abril, a partir das 16 horas, será apresentado, na Galeria Sargadelos (Porto), “SALOON”(Edições Mortas, 2007), o mais recente livro de António Pedro Ribeiro (n.1968), após o tão falado “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro”(Objecto Cardíaco, 2006). O evento inclui a actuação da banda punk-rock MANA CALÓRICA, de que o poeta é vocalista.

O autor, licenciado em sociologia, é jornalista. Foi fundador e é colaborador da revista “aguasfurtadas”(literatura, música e artes visuais). Participou, no Festival de Paredes de Coura de 2006, em duas performances poéticas ao lado de Isaque Ferreira (Quintas de Leitura, Teatro Campo Alegre) e do vocalista dos Mão Morta.

Segundo A. Pedro Ribeiro, “SALOON” fala dos bares, dos saloons. É também uma homenagem aos westerns de Clint Eastwood e John Wayne, à BD de Lucky Luke, o cowboy solitário, desligado das convenções sociais. É um roteiro da vida, à noite, na cidade, por onde anda a gingar o narciso “do bar que controla” (poeta-cantor libertino, cowboy). No livro evoca-se a mulher (presente e ausente), o amor, o sexo puro e duro, os jogos de sedução, a prostituição, os copos até de madrugada, as alucinações, a loucura mas também uma certa redenção/misticismo/messianismo expresso em poemas como "Jesus" ou "Madalena". É ainda rebelião libertária/libertina em bruto em “Porto 2001”, “A Arder” ou “O Futuro Já Não É”. A ironia dada/surrealista, que marcou a anterior “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro” é visível, por exemplo em “Mamas” ou “Oceano”.

Obras anteriores: “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro”(Objecto Cardíaco, 2006), “Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (Edição Pirata, 2004), “À Mesa do Homem Só. Estórias" (Silêncio da Gaveta, 2001) e “Gritos. Murmúrios” (Braga, 1988).

sexta-feira, abril 13, 2007

AMANHÃ ENCERRA

À direita, constelação ou bicho?

A exposição "Pertences", de escultura em cerâmica, do artista Paulo Óscar, encerra amanhã, sábado, 14 de Abril.

Relembramos que o nosso horário ao sábado é o seguinte: 10h00-13hoo/ 16h00-19h00.

segunda-feira, abril 09, 2007

O MEU CÃO TEM TRÊS PERNAS

O meu cão tem três pernas,
porque tiveram de lhe cortar uma.
Perguntei-lhe como é que se sentia,
olhou para mim e disse: "Foleiro!".
Costumava passear muito com ele e o meu pai, à noite,
mas agora ele já não
pode e por isso vamos só até ao parque.
Mas eu gosto à mesma do meu cão,
apesar de ele já não ser o que era.
Sabem, o nome dele era Veloz,
mas agora talvez não lhe ficasse bem:
escolhemos de entre sete ou oito palavras ternas
Stool, que quer dizer banco de três pernas.

Gez Walsh, traduzido por Helder Moura Pereira, aguasfurtadas 10, p.51

ABAT-JOUR

Vou comprar um abat-jour e adaptá-lo de alguma forma à minha cabeça para me ligar e desligar sempre que me apetecer. Será roxo, em pano e com berloques de renda. O meu campo de visão vai ficar limitado, mas acho que, por vezes, vejo mais do que aquilo que realmente desejaria ver. Na verdade, não sei bem para onde iria com o meu abat-jour, mas tenho a forte sensação de que arranjaria bastantes seguidores, homens vergados com albardas sobre as costas, moças sorridentes com varões de cortinados batendo-me ao de leve, pensionistas sem dentes, envoltos em toldos de cafés, e cães, muitos cães atrás de mim.

Pedro Amaral, aguasfurtadas 10, p.40

O REGRESSO

De uma terra de palmeiras
chegavam aerogramas amarelos
e depois ele entrava
o fantasma fardado
que se disfarçava do meu pai.

Toda a noite as janelas ficavam
acesas como olhos sem pálpebras.
Os passos rondavam pelo corredor
de um lado para o outro os mesmos
ignotos círculos do inferno.

Na parede de folhagem
espiavam máscaras de sentinela.
O candeeiro, cujo pé era feito
de uma bazuca, cercava o cinzeiro
de pontas mutiladas de cigarros.

Eu ignorava a loucura
o pavor as cabeças cortadas.
Ele revolvia as gavetas e trancava-as
dispondo a mobília de outra maneira
como se fosse uma barricada.

Rogério Rôla, aguasfurtadas 10, p.28

Outro poema, do mesmo autor, disponível aqui, p.28

dentadura perfeita, ouve-me bem:
não chegarás a lugar algum.
são tomates e cebolas que nos sustentam,
e ervilhas e cenouras, dentadura perfeita.
ah, sim, shakespeare é muito bom,
mas e beterrabas, chicória e agrião?
e arroz, couve e feijão?
dentinhos lindos, o boi que comes
ontem pastava no campo. e te queixaste
que a carne estava dura demais.
dura demais é a vida, dentadura perfeita.
mas come, come tudo que puderes,
e esquece este papo,
e me enfia os talheres.

Angélica Freitas, aguasfurtadas 10, p.12

sábado, abril 07, 2007

LAND ART: NAO PERCAM O QUE JAMAIS SE PERDE, MAS SE TRANSFORMA

A ideia, de autoria do artista plástico Meireles de Pinho, nasceu há quatro anos "quando não havia intervenções de Land Art de grande envergadura em Portugal" nem, aparentemente, local para concretizá-las. O projecto, pioneiro no país e caucionado pelo Parque Biológico de Gaia, encontrou, finalmente, palco no Parque da Lavandeira (Gaia), que acolherá dez intervenções de doze artistas - dez portugueses e dois catalães.

O trabalho, que começou esta semana, devendo ficar concluído até ao fim do mês, acabará por degradar-se. Poderá perdurar nos jardins um ano; talvez menos. É esse o princípio de expressão da Land Art nunca saber quando poderá extinguir-se uma obra, que é de arte, mas que não usa outro recurso que não seja o da própria natureza, cumprindo um ciclo semelhante ao do ecossistema.

"A terra o deu; a terra o comeu", sintetiza Maria Domingues Araújo, directora do recinto, satisfeita com a possibilidade de poder, também, "desmistificar os artistas plásticos, supostamente intocáveis, desviando-os das galerias para o espaço público".

(...)

A equipa ceramista, constituída pelos portugueses Joaquim Pombal e Marisa Alves com os catalães Josep Mates e Carlets, imaginou um objecto que acabaria por dar lugar a outro. O que deveria ser um farol transformou-se, depois dos artistas terem "sentido o espaço", numa escultura de quase quatro metros de altura com utilidade biológica servirá de ninho para cavernícolas. A peça será cozida hoje durante o dia inteiro. A partir da meia-noite, os autores convidam a assistir ao "espectáculo incandescente" da operação.

(...)

Quando a exposição cessar, restará o catálogo, a ser editado em Abril, a par de uma conferência com críticos, curadores e professores de Belas Artes.

COMBATER COM PALAVRAS
As palavras são um instrumento de combate. Talvez sejam o último. Nós temos muito pudor de dizer isto em Portugal porque somos logo taxados de marxistas ou de outra coisa qualquer. Há no nosso país a ideia de que a literatura se deve debruçar sobre os sentimentos ou sobre o nada, o não-tema.
Lídia Jorge (entrevistada por Andreia Azevedo Soares), Ípsilon, 16 de Março de 2007

quinta-feira, abril 05, 2007

III Encontro Intercultural de cerâmica 2007
No Parque da Lavandeira – Gaia
Dias: 4, 5, 6 e 7 de Abril


SÁBADO, 31 de Março
O encontro com o escultor cerâmico Paulo Óscar reuniu algumas (mas boas) pessoas que trabalham no âmbito da criação cerâmica que, infelizmente, continua a ser considerada uma parente pobre das artes plásticas, dominadas pelos novos meios como o vídeo e a fotografia que, a meu ver, concorrem para aquilo a que eu chamo “higienização”da arte contemporânea, sintoma de progressivo alheamento do Homem em relação à natureza e a si próprio. Das Caldas da Rainha vieram o escultor, a sua mãe (Grande castiça! Muito cascámos nas telenovelas e nos computadores!) e Jesus Sheriff. Do Porto, os ceramistas Marisa Alves e Joaquim Pombal e
João Carqueijeiro ; da Catalunha, Carlets e Josep Matés que estão a desenvolver, com os primeiros, um projecto de Land Art para o parque da Lavandeira (V.N.Gaia). Também apareceram 3 outras personalidades catalãs, de que não recordo o nome (desculpem-me por isso).