segunda-feira, abril 09, 2007

ABAT-JOUR

Vou comprar um abat-jour e adaptá-lo de alguma forma à minha cabeça para me ligar e desligar sempre que me apetecer. Será roxo, em pano e com berloques de renda. O meu campo de visão vai ficar limitado, mas acho que, por vezes, vejo mais do que aquilo que realmente desejaria ver. Na verdade, não sei bem para onde iria com o meu abat-jour, mas tenho a forte sensação de que arranjaria bastantes seguidores, homens vergados com albardas sobre as costas, moças sorridentes com varões de cortinados batendo-me ao de leve, pensionistas sem dentes, envoltos em toldos de cafés, e cães, muitos cães atrás de mim.

Pedro Amaral, aguasfurtadas 10, p.40