sexta-feira, março 30, 2007

AMANHÃ ENCONTRO COM PAULO ÓSCAR

Sábado, dia 31 de Março, a partir das 16h, estará presente na Galeria Sargadelos (r. Mouzinho da Silveira, 294), o escultor de cerâmica Paulo Óscar (n.1959), autor das obras que constituem a exposição “Pertences”, naquele espaço até 14 de Abril.

O artista, coordenador do curso de Cerâmica Criativa no CENCAL, expôs na SNBA (Lisboa), na ARCO (Madrid), na Bienal Internacional de Cerâmica de Vic (Catalunha), em Paris (Les Portes ouvertes de la Bastille), entre outros. O trabalho “Morfologia”, esteve patente, em 2004, no Jardim Botânico de Lisboa. A obra de Paulo Óscar foi objecto de análise de Rui Mário Gonçalves (em “Arte Portuguesa” e “Arte Portuguesa do Século XX”), Joao Pinharanda e Alexandre Pomar.

Obteve, em 1990, o 1º Prémio da Federaçao Internacional de Artesanato (Lisboa).

O escultor formou-se em Artes do Fogo, na Escola António Arroio, tendo sido bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi formador-assistente de Eduardo Nery.

quinta-feira, março 22, 2007


APRESENTAÇÃO DA AGUASFURTADAS 10.

Sábado, 24 de Março, às 16h30. Espaços JUP, Rua Miguel Bombarda, 187, Porto.

10 CONVIDADOS ESCOLHEM 10 OBRAS
PUBLICADAS NOS 10 NÚMEROS DA REVISTA AGUASFURTADAS.

Com a participação de Carlos Guedes, Daniel Pedrosa, Jorge Palinhos, Luís Trigo, Nelson d'Aires, Nelson Quinhones, Nuno F. Santos, Pedro Carreira de Jesus, Rui Dias, Rui Lage, Rui Penha, Samuel Silva, Sérgio Couto e Virgínia Pinho.

terça-feira, março 20, 2007

A MINHA ESTROFE PREFERIDA DE "VIVIMOS NO CICLO DAS EROFANIAS" (Yolanda Castaño, Espiral Maior, 1999)

A miña maior sorpresa ó comprobar a túa corporeidade á luz do día
contemplándote amañecer cos meus ollos medio derretidos
e ti cunha postura bestial, como debías.
pág.18

VIVIMOS NO CICLO DAS EROFANÍAS

A poeta Yolanda Castano (n.1977) é directora da Galeria Sargadelos da Corunha, inaugurada no passado dia 9 de Março.

Em Abril de 1999, ela esteve no Porto com outros poetas galegos da nova geração (Olga Novo, Ana Romani e Rafa Villar) que se reuniram no Pinguim café. Recordo-me bem da forma admirável como ela leu os seus poemas. A seguir, a minha análise de um dos seus livros.

“Vivimos no Ciclo das Erofanías” (Espiral Maior, 1998), de Yolanda Castano é o registo poético duma relação entre adolescentes, em que o sexo é assombrado pelos fantasmas da culpa e da vergonha. No poema da pág.23, ele é comparado com o pecado da gula: “ambición de suxedade que incubamos sem vergonza/ unha gula insensata…” Ainda que não nomeada directamente, a gula é sugerida nas reiteradas alusões a comida, a cozinhar, “almorzar” e a beber ou ainda aos órgãos de regurgitação e mastigação (a boca, os dentes): “unha présa de dentadas co sentido feroz do que se comprace en esfamear/ e busco a desproporción como unha nocturna festa de vampiros”(p.18) ou ainda essa “bestial voracidade”.

Ao longo das suas páginas, a autora vai-nos dando indícios que apontam para a juventude dos seus actores, quer pela referência directa às suas idades (18 e 19 anos), quer pelas marcas psicológicas e comportamentais, típicas da adolescência: o egoísmo, os pactos (“o nosso dogma” )e a auto-marginalização, igualmente tão cara aos amantes: “somos antinormais” ou “nos recluimos num planeta a regalarnos (p.19)”.

Mas são os “lazos vandálicos”, que os trazem acorrentados um ao outro, naquela “devoción enfermiza” e pacto masoquista (que nos recordam as cantigas de amor, da Idade Média) que melhor dizem desta relação, como “as páxinas mais bárbaras”(p.39), porque intensamente vividas. A poeta reclama do seu amante uma “yolandalatria”, tornando nítida a posição de domínio vassálico sobre o seu “can consorte”(p.25): “mina pel de dezanove anos/ que ti borrabas con servicios, servidume i saliva.” (p.19)

A intensidade é-nos sugerida no livro, vezes sem conta, como uma “desproporción”, uma exuberância (“Precipitarmonos exhuberantes.”), uma violência (“a fame violenta do meu corpo// o intraxuste fero e único”(p.39) ou, ainda, o “descomedimento. A hemorraxia.”(p.26) que remete, de certa forma, para a ideia de pecado, como uma "transgressão" (Bataille): “o meu corpo coma Cálice/ e asi rebosa os rebordos, rabiosamente, gloriosamente//Com isto a natureza en desenfreo que te nutre/ Unha forza de caudais como droga da tua boca”(p.25); “O noso frenesí sen precedentes.”; “frecuentamos os vulcanos”(p.40), “Os recunchos basálticos”(p.19).

O fim da relação transforma-se em memória gramatical, em escrita, como esses inúteis imperativos do verbo ser, “sexa” ou “sexamos”, onde podemos adivinhar “sexo”: “Somos duas vocais/ formando un diptongo, duas/ coordinadas copulativas,/ ou eu o obxecto directo e ti o verbo transitivo.”(p.36)
André Martins

sexta-feira, março 16, 2007

PARA O CALOR, ÁGUAS FRUTADAS; PARA O FRIO, ABENÇOADAS

Finalmente, e após numerosos e lamentáveis atrasos a que a direcção da"aguasfurtadas" é, como sói dizer-se, completamente alheia, o número 10 está aí. A revista terá uma primeira apresentação, dia 24 de Março, nos Espaços JUP (Rua Miguel Bombarda, 187), no Porto, às 16h00, no âmbito das comemorações dos 20 anos do NJAP/JU, a associação que edita a "aguasfurtadas". Nos próximos dias, anunciaremos todos os detalhes sobre este número 10 e o programa que estamos a preparar para esta primeira apresentação.
O atelier "Bolos Quentes" concebeu o design da capa.

Vejam, a seguir, o video de promoção (Dez. 2006) da nº 10.

quarta-feira, março 14, 2007

OS MEUS VERSOS PREFERIDOS DE SALOON (edições mortas, 2007),
DE ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO

A rua é sempre a mesma/ Acima abaixo abaixo acima
pág.7

o país a arder/ e eu a beber
pág.18

Tenho mulher/ E a tv estoira/ Bombardeia afegãos
pág. 21

Imaculada/ Levantaste-me do túmulo/ E levaste-me pela mão de Deus/ Para fora dos bares e dos artifícios do demo
pág.24

A noite morre/ Aos poucos/ No café das conversas/ Um aquecedor protege-me do frio/ E os homens que bebem pedem rissóis/ Ao som de música minimal repetitiva//(...)//A noite morre/ Mas ainda há gente que ri
pág.27

E não consigo vestir a máscara/ E não consigo despir a cara
pág.31

Os personagens repetem-se/ trocam cadeiras/ no café central//Estou a cair de velho/ mas escuto deliciado/ as conversas das adolescentes//Não sou o mesmo/ perdi a lata/a pose excêntrica
pág.32

Tempo de caos/ Apontas-me os erros/ E os fracassos/ Afastas-te/ Deixas-me em cacos//Tempo de caos.
pág.36
Agarrados ao telemóvel/ como à piça
pág.40

No café "Oceano"/ os pensionistas protestam contra/ os fracos aumentos das pensões/decretados pelo Governo/ mas misturam o tema/ com a toxicodependência/ e com a pedofilia na Casa Pia
pág.45

quarta-feira, março 07, 2007

Encontra-se patente, até 14 de Abril, na Galeria Sargadelos, a exposição “Pertences”, do ceramista e escultor Paulo Óscar. Formado em Artes do Fogo pela António Arroio, bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, o artista é actualmente coordenador do curso de “Cerâmica Criativa”, realizado, todos os anos, no CENCAL (Centro de Formação Profissional para a Indústria da Cerâmica, das Caldas da Rainha). Trabalhou, como designer, na empresa Sado Internacional. Exerceu, mais tarde, formação em azulejaria, tendo sido formador-assistente de Eduardo Nery.

Uma parte da exposição foi concebida, exclusivamente, para a Galeria Sargadelos. As obras traduzem uma vertente mais organicista, de apelo à Natureza e aos bichos, tendo em conta a sua integração em ambiente humano, evidenciada pela instalação de tijolos, formando uma espécie de construção. Assim, não nos encontramos perante elementos puramente naturais, mas sim apresentando já um certo grau de domesticação: cães, galo, hortas.

Nas palavras do artista, “Pertences” emprega uma série de obras resultantes da vivência de um local específico, personificado, onde construímos cumplicidades e relações afectivas. Estes objectos são a minha forma de os ver e reproduzir um ambiente. Contudo, este espaço, apesar destas diferenças mencionadas, será igual a tantos outros existentes nos meios rurais identificáveis por todos nós.

sábado, março 03, 2007

A DITADURA DOS MAIS BELOS
a propósito de Ségoulène Royal, candidata à presidência da Republica Francesa

Até agora, as mulheres têm vivido com o estigma dos 40 anos. Em Hollywood é até mais grave, os 30. O tic-tac do relógio biológico, as piadas das probabilidades de casamentos após os 40 serem mais baixas do que as de se ser vítima de acidentes variados e escabrosos, a discriminação inevitável quando todos os dias há meninas a fazer 19 anos e a oferecerem-se felizes para os seus ávidos admiradores, são pesadelos opressivos. A sociedade instalada no culto da beleza e da juventude, de modo obsessivo desde os anos 50, produz fornadas de solitários, indivíduos incapazes de estabelecerem relações de intimidade. Mulheres e homens não sabem o que fazer uns com os outros. E não conhecem quem ensine.

Paradoxalmente, reconhecer que uma mulher tem capital sensual aos 53 anos é pedagógico, libertador. Obriga a reorganizar os preconceitos e gera fenómenos de emulação, abrindo espaço para uma relação mais saudável com a mulher pós-40, reconhecendo-se nesta a legitimidade de uma afirmação integral da sua pessoa. O que pode também contribuir para a urgente demolição dos tabus que esmagam a terceira idade numa falsa segunda infância onde o sexo seria perigoso ou indigno. Ora, é precisamente ao contrário: sexo na terceira idade pode ser profiláctico, regenerativo e realizador da afectividade. Apenas depende da situação clínica de cada um, não da moralidade vexante.
Contudo, os tempos ainda são estes: estamos numa calicracia — o regime onde o poder é dado aos mais belos (do grego kalos, beleza). Segundo alguns, o fenómeno começou com Kennedy, o qual foi o primeiro político a ganhar umas eleições por causa da televisão. E há excelentes razões do foro antropológico e psicológico para se intensificar o processo. Os estudos revelam que esse tipo de discriminação positiva é norma no mercado de trabalho. E — todos o admitirão sem hesitar, para si próprios — é também esse tipo de discriminação positiva que cada um aprende a fazer na sua vida amorosa e sexual. Queremos possuir os mais belos, ser possuídos por eles, ou simplesmente aparecer ao seu lado e agarrar uma mísera oportunidade para debicar nas migalhas do banquete da beleza. Beleza (ainda por cima, para a humilhação ser completa no mundo dos feios) é sinal de saúde, de fertilidade. Irresistível o poder desse motor imóvel que é imago da eternidade.

Extraído de Aspirina B