domingo, junho 24, 2007

1ªPARTE DO DEPOIMENTO DE KIKO DA SILVA PARA O CATÁLOGO DA EXPOSIÇAO
Como uma boa sopa galega, a banda desenhada da Galiza tem vários ingredientes, essenciais para despertar o interesse em todo o mundo.
Além das raízes históricas, sem as quais a receita hoje nao poderia existir, foram-se juntando ingredientes até converter a bd num prato cada vez mais saboroso. Estes ingredientes fundamentais sao os seguintes (apontem já!):
Batatas do [grupo] Frente Comixario, de Ourense: Uma das iniciativas pioneiras da nossa banda desenhada, em que se demonstrou que a uniao faz a força, e que foi uma das primeiras tentativas de criar uma revista de banda desenhada, e em galego. Nasceu na cidade de Ourense e conseguiu reunir nas suas páginas uma grande parte dos autores debutantes. Actualmente, alguns dos seus membros continuam no activo como desenhadores ou como divulgadores de banda desenhada. Juntamente com a Casa da Juventude de Ourense, organizaram as históricas Xornadas de Banda Desenhada de Ourense, pelas quais passaram uma parte representativa dos melhores desenhadores da Galiza.
Água com sal da piscina de Golfiño: No início de 2000, enquanto em Barcelona a editora Norma lançava a revista Dibus, na galiza nascia a revista Golfiño, com a chancela da Xerais, sendo dirigida por Fausto Isorna [Comissário, com Gemma Sesar, da mostra na Galeria Sargadelos] e Miguel Vasquez Freire. A publicaçao assemelhava-se, em termos de conteúdo, à revista catala Treztevents, na qual misturavam banda desenhada infantil, reportagens e relatos ilustrados. Infelizmente, após catorze números, a revista desapareceu, dado que os custos superavam as vendas.
No entanto, em 2002, o jornal La Voz de Galicia decide recuperar o cabeçalho de Golfiño para convertê-la num suplemento semanal de banda desenhada infantil, com uma tiragem que oscila entre 25.000 e 125.000 exemplares, o que constitui um marco na bd galega.
Passaram pelas páginas desta publicaçao, a primeira revista periódica profissional, da nossa bd, practicamente a totalidade dos actuais desenhadores da Galiza. A iniciativa, permitiu que, durante dois anos e meio, se editasse bd em galego, e para todos os públicos, numa comunidade autónoma onde, o mundo editorial, nunca tinha apostado seriamente na banda desenhada.
Grelos da horta de BD banda: A reminiscência, a marca indelével de Frente Comixario, de Ourense, foi um dos detonadores para que, em 2001, nascesse o fanzine BD Banda, impulsionado, a partir de Pontevedra, pelo desenhador Kiko da Silva e pelo livreiro Cano Paz. O projecto conseguiu, mais tarde, recuperar três dos membros do antigo Frente Comixario (Carvalho, Heitor e Paradelo) e o jornalista Germam Ermida. Após cinco anos de vida, a alta qualidade do fanzine consegue, pela primeira vez na história da bd galega, o prémio do júri do Salao de Banda Desenhada de Barcelona, pelo melhor fanzine, de 2005.
O sucesso do projecto, conduziu o colectivo a uma profissionalizaçao, e no início desse mesmo ano, Bd Banda pôs em funcionamento uma colecçao de álbuns, na editora livreira, Factoria K. Um ano mais tarde, após várias exposiçoes, eventos comemorativos e uma recolha em castelhano, Bd Banda converte-se numa publicaçao profissional, dirigida a um público juvenil, com tiragens em galego e castelhano.
[CONTINUA]

sábado, junho 23, 2007





"Proibido Pensar",
Cartoons de Xaquín Marín

Hoje, durante a manhã, veio visitar-nos Xaquín Marín (Ferrol, 1943), um dos pais da BD galega, a par de Reimundo Patiño (La Coruña, 1936-1985). Esteve no Porto, para a inauguração, ontem, de Porto Cartoon, por coincidência à mesma hora de abertura de "A Banda Desenhada Galega". Bom S. João, Xaquín!


DEPOIMENTO DE XAQUÍN MARÍN PARA O CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO
Foi Reimundo Patiño quem acompanhou a minha entrada em Madrid; numa altura em que o desenho popular galego agonizava, ele falou-me das potencialidades da banda desenhada para comunicar com as pessoas. A pintura era mais direccionada para elites e a gravura tinha tiragens muito limitadas.
Quando regressei a casa, estava tão convencido que pus mãos à obra. O que fui desenhando, enviei-o, ipso facto, a Chan, a única revista que, à época, se editava no nosso país, ou seja, editava-se em Madrid, mas não deixava de ser galega.
Apareceu entao, em 1971, O Emigrante, uma bd que pretendia usar um novo meio com ética e estética galega e com muita ingenuidade, que espero que não se tenha perdido com o decorrer dos anos. Outros anos passaram e Chan chegou ao fim.
Naquele tempo, também na capital de Espanha, entrámos em contacto com o grupo de Edicións do Castro: Chichi Campos, Xosé Diaz, Rosendo Esperante (se é que não me esqueço de nenhum) e também com Pepe Barro, que queria fazer bd desde Pontedeume[La Coruña], e formámos outro grupo, Fusquenlla, que surge na história com o mérito de não ter feito nada. Reimundo, eu e mais alguns participámos em várias exposições colectivas e em mesas mais ou menos redondas, através das quais se pretendia potenciar as exposições e nos consciencializarmos das dificuldades de penetração que iriamos ter, mas que nós, na altura destemidos, não tivemos em linha de conta.
A edição, por Roi Xordo, da revista A Cova das Choias, do grupo de Edicións do Castro, em Genebra, vendida, clandestinamente na Galiza; o livro 2 Viaxes, de Reimundo e meu, editado em Madrid, por Brais Pinto, que cheguei a ver numa livraria madrilena classificada como bd estrangeira e ao triplo do preço; a exposição de banda desenhada serigrafada O Home que falaba Vegliota, de Reimundo, na Galeria Redor, igualmente na capital do Estado...são três marcos, nos primeiros passos da bd galega.
Reimundo e Chichi estão mortos, e daqueles que deram início ao percurso, acho que só eu nunca me afastei do género. Felizmente, multiplicaram-se os autores e os caminhos, ainda que não livres de problemas, mas dos quais não me cabe a mim falar.

Inauguração de "A Banda Desenhada Galega"

terça-feira, junho 19, 2007


Inaugura na próxima sexta-feira, dia 22 de Junho, pelas 18h30, na Galeria Sargadelos (Porto), a exposição " Banda Desenhada Galega: uma retrospectiva – dos anos 70 à actualidade", com a presença do Dr. Luís Bará, Director Geral de Criação e Promoção Cultural, da Xunta da Galicia (pelouro da Cultura) e dos comissários da exposição, Fausto Isorna (também autor de BD) e Gemma Sesar.

A mostra, constituída por originais de mais de 20 autores galegos, está organizada em 4 períodos cronológicos: Pioneiros, Underground, Indústria e Presente. Nos primeiros tempos, destaca-se a influência da pintura na banda desenhada, tendo esta última um vincado carácter de intervenção política, com os nomes pioneiros de Reimundo Patiño (La Coruna, 1936-1985), Xaquin Marin (Ferrol, 1943) e o Grupo do Castro (Xosé Diaz, entre outros). Os dois primeiros assinam, em 1975, a primeira BD galega, "2 Viaxes". Patiño considera que a arte popular foi aniquilada pelos novos meios de comunicação, perspectivando o comic como uma nova forma de expressão artística. No final dessa década, a revista Xofre, de que saiu apenas o primeiro nº (um dos autores é o então estudante Miguelanxo Prado), é alvo de ataques por parte dos nacionalistas galegos, acusada de "espanholista e imitadora do estilo francês". Os anos 80 (período da movida madrilena), surge em ambiente underground, com a multiplicação dos quadradinhos em revistas e fanzines. Nos anos 90, assiste-se por um lado a uma maior industrialização desta arte e por outro a um interesse crescente pela manga japonesa, salientando-se o idealismo e a aventura de uns poucos. Distinguida desde os seus primórdios, a BD da Galiza adquiriu projecção europeia. Destacam-se nomes como Emma Rios, Kiko da Silva e Das Pastoras. De assinalar também a revista Golfino e os fanzines BD Banda e Barsowia, que vêm confirmar a importância da banda desenhada galega no mundo da arte.

Tendo começado a sua itinerância, em finais de 2006, na conceituada Fundação Feima, em Madrid, a exposição passou por Barcelona e, no mês passado, pela Bedeteca (Lisboa).

Patente até 31 de Julho.

domingo, junho 17, 2007

Sou resistente (e um pouco desconfiado) em relação aos livros ou autores mainstream, digamos assim, como "Portugal, o medo de existir", de José Gil, por exemplo ou Gonçalo M. Tavares. Provavelmente até é mania/ cisma minha. (Não tem nada que ver com inveja: é talvez um preconceito, uma aversão a tudo o que soe a espírito de rebanho.) Não significa que não vá verificar, mais tarde, com a minha própria cabeça se a aclamação é justa ou desmedida.

Adquiri o romance "Jerusalém", do referido escritor. Estou nas primeiras páginas e vale mesmo a pena, sem dúvida. Está muito bem escrito! Estarei, como Gonçalo merece, mais atento a esta revelação da língua portuguesa. Quando estiver mais adiantado deixarei provavelmente post sobre o livro, aqui ou no Paris, Texas (ou nos dois). Para já fiquem com este excerto, para vos aguçar o apetite:

Os pés distantes dos sapatos. Era evidente que os sapatos rasos, à homem, que Mylia usava, obedeciam ao movimento dos pés. Ossos e músculos têm vontade, o material de que são feitos os sapatos não. O material de que são feitos os sapatos é treinado para obedecer, sobre isso não tinha dúvidas. Obedeçam sapatos, murmurou Mylia, com uma perversão ingénua. Como as substâncias se separavam logo à partida entre as que avançavam com a vontade própria e as que esperavam com obediência estática (e nisso dividiam-se como alguns homens)! Os sapatos eram a obediência pura, a escravidão mesquinha, enojavam-lhe naquele momento; a sabujice destes materiais em relação ao homem. Nenhum cão é tão sabujo como estas substâncias.
JERUSALÉM, Gonçalo M. Tavares

André Martins

quinta-feira, junho 14, 2007

Hoje, no Porto:

20h30, na Praça D. João I (em Lisboa, no Largo Camões): Concentração silenciosa por "um serviço público para a Cultura e por teatros municipais abertos e plurais".

22h30, na Maria-vai-com-as-outras, rua do Almada, 443: "Fucking Amal", primeiro dos 3 filmes, do "Ciclo de Cinema Lésbico". Organizaçao do GRIP - Grupo de Reflexão e Intervenção do Porto. Entrada livre. Amanhã, sexta, "Loving Annabelle", e sábado, dia 16, "Aimée & Jaguar".

segunda-feira, junho 11, 2007

As margens sacralizadas do Douro através de vários cultos (Lello Ed), de Dalila Pereira da Costa, analisado aqui, por Alexandre Teixeira Mendes. O livro tem como base de estudo as gravuras do Parque Arqueológico do Côa para uma hermenêutica do sagrado, enquanto "cosmovisão telúrica", em comunidades cuja organização matriarcal, e, portanto, o seu imaginário e as suas expressões remetem para o Grande Feminino. Como diz, acertadamente, A.T.M., nestes casos "não basta actuar como arqueólogo, mas como um hermeneuta."

"Para a cultura portuguesa a sua importância – enquanto testemunho de um passado já extinto - ainda não foi integralmente avaliada (não faltam perspectivas gerais acerca desta cultura milenar onde, na estrutura ou tablado social, se admite, ou ao menos se subentende, o mundo psíquico-arquetípico do Grande Feminino hoje ainda presente em Portugal-Galíza). Trata-se de uma cultura peculiar e ímpar onde – no seu simbolismo manifesto e explícito – se evidencia uma cosmovisão telúrica e seu intento por implicar todas as realidades desde a “Terra Mãe”: os minerais, os vegetais e os animais, assim como a própria terra, a água, o fogo e o ar.
(...)
As peripécias da vida, formação e actividades de Dalila Pereira da Costa no curso dos seus 90 anos (nasceu no Porto em 1918) estão relatados na sua autobiografia “Os Instantes nas Estações da Vida” (Lello Ed). Ela ocupa posto de absoluto destaque no cenário dos estudos da fenomenologia e teoria da experiência mística, hermenêutica do sagrado na arte e na história (o que nós entendemos como “paideuma” português). Ligada familiarmente a Santa Marta de Penaguião, outrora pertencente à antiga Terra de Panóias, Dalila Pereira da Costa tem dado realce, desde o início, a bipolaridade de forças que teriam regido a nossa vivência (desde os tempos primordiais). Dois pólos complementares, segundo a sua perspectiva, como o telúrico feminino e lunar, representado pela serpente: o mito ofidiano (Da serpente à imaculada, Lello Ed,). Precisemos, desde já, que a sua extensa obra mística e hermenêutica - pela pluralidade de abordagens - delimita uma re-aproximação à hermenêutica da história, da língua, da poesia.
(...)
Se há um tema característico de Dalila Pereira da Costa é o sagrado. E numerosas são as monografias sobre a vertente hermenêutica aplicada aos textos literários – a poética do mito (designemo-lo assim) em Fernando Pessoa, Guimarães Rosa ou Herman Melville - e a lógica da reflexividade em torno dos mitos fundadores e da simbólica da cultura portuguesa – justamente a partir de leitura das ideias filosóficas-literárias ou poéticas, arqueológicas, icónicas e pictóricas."

terça-feira, junho 05, 2007

FERIADO, DIA 7 de JUNHO,
A GALERIA SARGADELOS ABRE DE TARDE,
ENTRE AS 15H00 E AS 19H00.

domingo, junho 03, 2007

Eu gosto de procurar sozinho para me encontrar com todos.
J. de Almada Negreiros