quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Curiosidade encontrada num livro

"Amor", em latim, é uma palavra composta pelo prefixo de negação "a"(significa "sem") e pelo substantivo "mors" (que significa "morte"). Assim, "amor" tem o sentido de "sem morte" ou imortalidade.
Até nos esquecemos que o tempo passa quando estamos juntos.
Não é todos os dias que se encontra uma coisa destas.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Respigando algumas frases-versos, de que eu gostei, desta respigadora:

1.

trago a boca cheia de fotogramas. esvaziei os olhos de nomes.

disse bom-dia à ficção.

a cidade que trago no pulso, o nervo dos autocarros...

amanhã acordo cedo e não digo bom-dia à imaginação.

marquei férias para que a loucura fosse bem acompanhada. a estrada está na tinta...

o ruído da manhã misturado com o som da televisão.

2.

diz-me onde vais tu sem conjugação,
pássaro?

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Últimos? Últimos. (Por agora. Também de Adília.)

De "O Peixe na Água", 1993

Adormecer
(com algumas coisas de Maria Teresa Horta)

Preciso de te tocar
caule
gato
corda
mão
abraço-te
a tua roupa
tu
não te divulgo
o teu nome
os teus olhos azuis
a tua gentileza
espero que os partilhes
com alguém querido
como os partilhaste
comigo
amante querido
que não perco
que não deito fora
os meus amantes
não são Gillettes
(não são de usar
e deitar fora)
embora eu seja
uma poetisa pop
e não tenha amantes
gosto de adormecer
a lembrar-me de ti
de como me sorrias
de como me olhavas
se os meus poemas
contribuiram para isso
são excelentes

De "Poemas Novos", 2004

Não morro
de saudades
tuas

Vivo
de saudades
tuas

As saudades
minhas e tuas
dão saúde

Não desejo
a morte
desejo
a vida

Segundo bouquet, de A.Lopes

Do livro "A Bela Acordada", 1997

A Princesa de Braços Cruzados

- Não quero trabalhar, nem estudar, o que eu quero é namorar- disse a princesa e cruzou os braços.
Dormia de braços cruzados e tinham de lhe dar de comer porque a princesa só podia abrir os braços para abraçar o namorado e nao havia nenhum namorado para ela.
Quando se acabou o dinheiro, acabaram-se as criadas e acabou-se a comida. A princesa morreu de fome, muito suja, mas sempre de braços cruzados.
E nem os cangalheiros nem os médicos legistas lhe conseguiram descruzar os braços porque nem os cangalheiros nem os médicos legistas eram o namorado da princesa de braços cruzados porque nao havia nenhum namorado para ela.
Foi conservada em formol dentro de um frasco de vidro transparente para ser mostrada aos visitantes do Museu de História Natural. Na placa que dá informaçoes sobre o conteúdo do frasco está escrito em latim: "só descruzará os braços quando lhe aparecer um namorado". Todos no Museu têm a esperança de que um dia um visitante saiba latim e seja namorado da princesa de braços cruzados.
Mas a empregada do balcão do bar do Museu, menos positivista do que o resto do pessoal, resolveu fazer o mesmo que a princesa de braços cruzados. Por isso não há bicas para ninguém.

Do livro "Sete Rios Entre Campos", 1999

La femme de trente ans

Amarás
o meu nariz
brilhante
as minhas estrias
os meus pontos pretos
os meus textos
os meus achaques
e as minhas manias
e as minhas gatas
de solteirona
ou não me amarás

*
No cacilheiro
o namorado beija
a namorada
mas por cima
do ombro dela
olha-me
com muita curiosidade

Alguns poemas de amor, de Adília Lopes

Do livro "O Marquês de Chamilly", 1987

Uma das coisas
que Marianna mais detesta
é a publicidade
ao código postal
detesta o meio caminho andado
lembra-lhe o paradoxo
de Aquiles e a Tartaruga
meio caminho andado
meio caminho
e mais um quarto
andados às voltas
a torcer o lenço nas mãos
meio caminho e mais um
oitavo andados
a irma Octávia toma rapé
que desgosto
meio caminho e mais um dezasseis
avos andados
favos e aves que nojo
meio caminho e mais trinta
e dois avos andados
qualquer dia faço eu trinta anos
e assim por diante que raiva

*
Marianna que não gosta
de chantilly
passa a gostar de duchesses
a partir do momento
em que
chantilly lhe soa a Chamilly

Marianna rêvant

Marianna lembra-se
dos pés
ao voltar dos campos
vai buscar um alguidar
um jarro com água quente
e um sabonete de glicerina
ensaboa demoradamente
os pés
depois cruza as mãos atrás da nuca
e encosta-se muito para trás
na cadeirinha baixa
depois com a água morna
sonha
o marquês de Chamilly dá-lhe rosas
e doces de açúcar
de repente Marianna levanta-se
e vai-se deitar descalça
a ouvir Bach
a gata preta malhada de branco
entretanto vem
e lambe as sopas de peixe do pires
azul de esmalte
depois a gata cheira os pés de Marianna
e lambe-lhos

Do livro "Maria Cristina Martins" , 1992

Pois passara noites e noites a sonhar
que não se conseguia acabar de vestir
nunca

*
Ah quem me dera um vestido
que me queimasse

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

11 de FEVEREIRO

"O aborto é proibido, mas pode-se fazer."

Ricardo Araújo Pereira e o Gato Fedorento