SEMANA MUNDIAL DA VIDA LENTA (14-22 de Janeiro)
(…) " O Tempo voa! "; " O Tempo corre feito um corcel! "; " Dêem um pouco mais de tempo": são as queixas do Branco.
Digo que deve ser uma espécie de doença porque, supondo que o Branco queira fazer alguma coisa, que seu coração queime de desejo, por exemplo, de sair para o sol, ou passear de canoa no rio, ou namorar sua mulher, o que acontece? Ele quase sempre estraga boa parte do seu prazer pensando, obstinado : " Não tenho tempo de me divertir ". O tempo que ele tanto quer está ali, mas ele não consegue vê-lo. Fala em uma quantidade de coisas que lhe tomam o tempo, agarra-se, taciturno, queixoso, ao trabalho que não lhe dá alegria, que não o diverte, ao qual ninguém o obriga se não ele próprio. Mas, se de repente vê que tem tempo, que o tempo está ali mesmo, ou quando alguém lhe dá um tempo - os Papalaguis estão sempre dando tempo uns aos outros, é uma das ações que mais se aprecia - aí não se sente feliz, ou porque lhe falta o desejo, ou está cansado do trabalho sem alegria. E está sempre querendo fazer amanhã o que tem tempo para fazer hoje.
Certos Papalaguis dizem que nunca têm tempo : correm feito loucos de lado para o outro; como se estivessem possuídos pelo aitu; e por onde passam levam a desgraça e o pavor por terem perdido o seu tempo. É um estado horrível, esta possessão que não há médico que cure, que contagia muitos homens e os faz desgraçados.
Todo Papalagui é possuído pelo medo de perder seu tempo. Por isso todos sabem exatamente ( e não só os homens, mas as mulheres e as crianças ), quantas vezes a Lua e o Sol saíram desde que, pela primeira vez viram a grande luz. De fato, isso é tão sério que, a certos intervalos de tempo, se fazem festa com flores e comes e bebes. Muitas vezes percebi que achavam esquisito eu dizer, rindo, quando me perguntavam quantos anos tinha : " Não sei... " " Mas devias saber ". Calava-me e pensava que era melhor não saber.
PAPALAGUI (online). Editado pela Antígona.
(…) " O Tempo voa! "; " O Tempo corre feito um corcel! "; " Dêem um pouco mais de tempo": são as queixas do Branco.
Digo que deve ser uma espécie de doença porque, supondo que o Branco queira fazer alguma coisa, que seu coração queime de desejo, por exemplo, de sair para o sol, ou passear de canoa no rio, ou namorar sua mulher, o que acontece? Ele quase sempre estraga boa parte do seu prazer pensando, obstinado : " Não tenho tempo de me divertir ". O tempo que ele tanto quer está ali, mas ele não consegue vê-lo. Fala em uma quantidade de coisas que lhe tomam o tempo, agarra-se, taciturno, queixoso, ao trabalho que não lhe dá alegria, que não o diverte, ao qual ninguém o obriga se não ele próprio. Mas, se de repente vê que tem tempo, que o tempo está ali mesmo, ou quando alguém lhe dá um tempo - os Papalaguis estão sempre dando tempo uns aos outros, é uma das ações que mais se aprecia - aí não se sente feliz, ou porque lhe falta o desejo, ou está cansado do trabalho sem alegria. E está sempre querendo fazer amanhã o que tem tempo para fazer hoje.
Certos Papalaguis dizem que nunca têm tempo : correm feito loucos de lado para o outro; como se estivessem possuídos pelo aitu; e por onde passam levam a desgraça e o pavor por terem perdido o seu tempo. É um estado horrível, esta possessão que não há médico que cure, que contagia muitos homens e os faz desgraçados.
Todo Papalagui é possuído pelo medo de perder seu tempo. Por isso todos sabem exatamente ( e não só os homens, mas as mulheres e as crianças ), quantas vezes a Lua e o Sol saíram desde que, pela primeira vez viram a grande luz. De fato, isso é tão sério que, a certos intervalos de tempo, se fazem festa com flores e comes e bebes. Muitas vezes percebi que achavam esquisito eu dizer, rindo, quando me perguntavam quantos anos tinha : " Não sei... " " Mas devias saber ". Calava-me e pensava que era melhor não saber.
PAPALAGUI (online). Editado pela Antígona.
1 Comments:
Nós temos é todos os dias o dia da net lenta!
Quanto ao livro é mesmo muito bom com a sua visão do homem moderno que por vezes perdemos a noção do que nos move e do que importa.
O tempo é um bem precioso!
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