terça-feira, novembro 07, 2006

THOREAU CONTRA A ESCRAVATURA
1. Justiça e consciência
Nao é desejável que se cultive o respeito pela lei, tanto quanto o respeito pela justiça. A única obrigaçao que tenho o direito de assumir é a de, em todas as alturas, fazer o que julgo justo. Afirma-se muitas vezes e com razao que uma corporaçao nao tem consciência. Mas uma corporaçao de homens conscientes é uma corporaçao com consciência.
Henry David Thoreau, A Desobediência Civil, trad. Manuel Joao Gomes, Antígona, Lisboa, 1987, p. 22
2. A práctica
O que mais importa nao é haver muitos tao bons como nós, importa, sim, que haja algures alguma bondade absoluta; bastará esta para que toda a massa seja levedada. Há milhares de pessoas que em teoria se opoem à escravatura e à guerra, mas que, de facto, nada fazem para que a escravatura e a guerra acabem. Pessoas que, dizendo-se filhos de Washington e Franklin, ficam sentadas, de maos nos bolsos, dizendo que nao sabem o que devem fazer, e nada fazendo(...) Por cada homem virtuoso, há novecentos e noventa e nove apoiantes da virtude.(...) Pode-se votar pelo que é justo sem se fazer nada pela justiça.
Idem, ibidem, pp. 28-29
3. Apenas o passo dum homem
...se apenas dez homens honestos, se até mesmo um só homem honesto, no Estado do Massachusetts, renunciando à posse de escravos, rompesse com as normas que o Estado impoe e se deixasse fechar na cadeia, o resultado seria a aboliçao da escravatura na América. Nao se olhe à pequenez desse primeiro passo: o que no princípio é bem feito, permanece bem feito para sempre. Mas nós preferimos a conversa, dizemos que é essa a nossa missao. A aboliçao[da escravatura] conta com grande número de jornais ao seu serviço, mas do que ela precisa é de um homem.
Idem, ibidem, p.38
4. A prisao
Pode alguém julgar que ali[na prisao] se perde influência, que a sua voz nunca mais molestará os ouvidos dos Estado, que nao conseguirá combatê-lo tanto como fora das grades; quem assim pense ignora que a verdade é muito mais forte do que o erro e que a injustiça pode ser combatida mais eloquente e eficazmente depois de ter sido sentida na própria carne.
Idem, ibidem, p. 39
5. Estadistas e legisladores
Os estadistas e os legisladores, estando como estao no interior das instituiçoes, nunca conseguem olhar para elas de forma nitida e clara. Falam da sociedade em mudança, mas nao têm, fora dela, onde assentar os pés. Podem ser homens de alguma experiência e com poder de discriminaçao, inventam sistemas engenhosos e até úteis, pelos quais lhes devemos estar gratos; mas todo o seu engenho e honestidade se ficam dentro de limites muito acanhados.
Idem, ibidem, p. 56
Mas a grande qualidade dele[Daniel Webster, autor da Lei dos Escravos Fugitivos] nao é a sabedoria, é a prudência.
Idem, ibidem, p.57