quinta-feira, novembro 30, 2006

O TRANSCENDENTE E O CINEMA
1º rascunho: Segundo Walter Benjamin, a capacidade de reproduzir uma obra de arte (implicando a perda da singularidade e do "aqui e agora") destruíu a sua aura. Mas será que o cinema não poderá reencontrar (e não reencontrou já?) essa aura perdida? Não pela restituição do que não se pode repor desaparecido para sempre mas por um caminho diferente: criando a distância necessária (uma lonjura, por muito próxima que esteja), afastando o que está perto, deixando-o respirar (é isto que Ozu faz nos seus planos vazios), colocando-o em relação com algo transcendente. A distância de que fala Cézanne. A distância que descobrimos em Godard ou nos filmes de Straub e Huillet ou ... Reparem bem nas palavras de Benjamin, quando ele diz "a aura desses montes", "a respiração deste ramo" — reconhecem a voz de Danièle Huillet/Cézanne? Tudo isto, parece-me, vira o cinema ao contrário, não para a modernidade (que se aproxima demasiado dos objectos) mas para o passado (que se afasta para ver melhor). O cinema caminha como o anjo de Benjamin? Sob as imagens da Odisseia de Fritz Lang (em Le Mépris ) lê-se: «Il cinema è un’ invenzione senza avvenire» (citação de Louis Lumière) — não podemos acrescentar que, em contrapartida, o cinema tem um passado esplendoroso por cumprir?

Cristina