quarta-feira, agosto 30, 2006

Murder in Samarkanda
Craig Murray, ex-diplomata britânico no Uzbequistao, escreveu um livro, Murder in Samarkanda, onde revela aquilo que já sabíamos a propósito de Guantanamo e do Iraque, o (ab)uso da tortura como meio para arrancar informaçoes a prisioneiros e, ainda por cima, por parte de torcionários ao serviço de regimes democráticos. Craig Murray alertou o FCO[Foreign and Commonwealth Office] "para o facto de as informaçoes sobre o perigo islâmico enviados pelo Uzbequistao para os serviços secretos americanos(CIA) e britânicos(MI6) serem obtidas através de tortura". Em seguida postaremos alguns extractos duma entrevista do autor do livro à revista de domingo do jornal Público, Publica, de 27 de Agosto de 2006.
Porque é que submeteu o original à apreciaçao do FCO[Foreign and Commonwealth Office]?
Porque o FCO diz que os antigos funcionários têm de o fazer.Eles dizem aliás que está no contrato de trabalho, embora eu nao encontre nada no meu.
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Pediram-lhe para fazer muitas alteraçoes?
Muitas, incluindo retirar vários documentos anexos[telegramas e emails oficiais].Fi-lo porque me pediram e porque queria que o livro fosse publicado.Fiz as alteraçoes e o FCO respondeu que, mesmo assim, nao me deixava publicá-lo.(...)Nessa altura, pensei que o melhor seria publicar a versao original, sem alteraçoes, mas o editor nao quis com medo de processos judiciais.Por isso é que os documentos anexos foram parar à minha página na Internet[www.craigmurray.co.uk].
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Foi envenenado durante uma viagem de regresso ao Uzbequistao?
É dificil encontrar outra explicaçao, mas, em rigor, nao sei o que se passou. O exame de toxicologia nao encontrou nada. É uma coisa rara, coágulos multiplos, em ambos os pulmoes.(...)E antes de aparecer, eu nunca tinha nada nos pulmoes.(...) Regressei e de repente estive às portas da morte por causa desta doença misteriosa e súbita.
Hoje, os EUA já nao apoiam o regime de Karimov.
É mais o contrário: Karimov é que nao apoia os EUA. Se ele permitisse, os EUA ainda estariam a dar-lhe dinheiro de boa vontade.(...)Os EUA fingem que foi o massacre de Andijan[em Maio de 2004, quando a policia uzbeque matou centenas de manifestantes da oposiçao] que os fez mudar de opiniao, mas a reacçao americana a esse massacre foi mínima.Demoraram muito a reagir, culparam ambas as partes e ainda disseram que haveria extremistas islâmicos entre os manifestantes.Comparado com o que disseram os países europeus, isto até foi uma forma de apoio.
E qual é agora a atitude britânica?
Agora que ele já nao é um amigo dos americanos, a Gra-Bretanha é muito mais crítica.Há três anos, qualquer ministro britânico diria que o Uzbquistao era um grande aliado na guerra contra o terrorismo.(...)
(...)A política de obtençao de informaçoes secretas por via da tortura continua a funcionar com a Arábia Saudita, com a Argélia, com Marrocos, com Gâmbia e outros.
Disse que o Governo britânico estava implicado em acçoes de tortura, que deliberadamente difundia informaçoes falsas para sobrevalorizar a ameaça da Al-Qaeda, mas apoiava um ditador[Karimov]em detrimento dos seus opositores, fazendo de conta que a oposiçao a esse ditador era a Al-Qaeda. E a seguir disse que o Governo estava a querer afastar-me com base em justificaçoes falsas.Nessa altura ninguém me acreditava.Eu dizia que o Governo estava a mentir, que os ministros estavam a mentir, e isso nao é algo que as pessoas estejam dispostas a acreditar que se passa numa democracia.(...)O facto de nao terem sido encontradas armas de destruiçao maciça no Iraque fez-nos perceber que os governos mentem, estao sempre a mentir.